Wes Craven: 1939-2015
(31 de ago. de 2015)
Wes Craven, uma das lendas por trás do cinema de terror, morreu neste domingo (30/8). O cineasta tinha 76 anos. Sem dúvida, uma das maiores perdas que o cinema sofreu nos últimos tempos. Vamos relembrar um pouco de sua carreira, e rever alguns dos clássicos que ele lançou.
Craven ficou famoso por seus filmes de terror e suspense, alavancando um gênero que nunca foi tratado como comercial e era sempre relegado ao tratamento dado a filmes B. É quase unânime a forma como cineastas do gênero dão crédito a Craven por ter aberto o campo.
Craven começou sua carreira na década de 1970. Contudo, uma coisa que pouquíssimas pessoas lembrariam, é que o ele começou dirigindo filmes de outro gênero: filmes pornográficos. Ele utilizava pseudônimos na época, o que dificulta um pouco a pesquisa. O único realmente possível de encontrar em sua filmografia foi The Fireworks Woman (traduzindo no pé da letra, o título seria A Mulher que emite Fogos de Artifício, uma referência bem óbvia). O filme de 1974 lidava com incesto entre irmãos.
O filme de estreia que a maioria lembra é Aniversário Macabro, de 1972. Além de ser baseado em fatos reais, o filme é considerado uma reinvenção do clássico de Ingmar Bergman, A Fonte da Donzela. Craven produziu uma obra altamente controversa, com altos graus de violência e sexualidade. Histórias de terror geralmente geram opiniões fortes e divergentes, até pelo conteúdo apelativo. Até que ponto cinema é considerado de bom gosto? É um debate interminável, e depende do diretor o quanto ele resolve mostrar ao público. De qualquer forma, o primeiro filme de Craven possui tanto fãs quanto detratores.
Mais do que qualquer outra obra, Wes Craven é principalmente lembrado pelos fãs por seu papel na criação de um dos ícones do horror: Freddy Krueger.
A Hora do Pesadelo foi lançado em 1984. Assim como Sexta-Feira 13, o filme foi o pontapé inicial de uma enorme franquia lucrativa, tanto para o estúdio quanto para os fãs, que sempre puderam contar com doses consecutivas de vítimas sendo retalhadas. Quem viveu na década de 1980 lembrará bem. Apesar de não ter dirigido as continuações, o impacto da obra original repercurtiu, e todos os diretores seguintes tentaram manter-se fiéis ao máximo ao que Craven havia criado. O filme deu tão certo porque atingiu o subconsciente do público. A idéia de um vilão que matava suas vítimas em seus sonhos sempre foi terreno fértil psicológico a ser explorado, e Craven foi capaz de unir essa idéia no contexto de terror audiovisual.
Com o passar do tempo, o gênero terror foi dando sinais de cansaço. Na década de 1990, parecia que os dias de Freddy Krueger e Jason estavam ficando para trás. Foi então que Craven deu a volta por cima e lançou um filme que reenergizou o gênero: Pânico. Com roteiro de Kevin Williamson, o filme foi uma sátira dos próprios filmes de terror feitos até então. Misturando comédia e sustos, Craven extraiu uma fórmula que acabou tornando-se base para diversas continuações, e também outros filmes do mesmo gênero (pode se dizer que Williamson contribuiu, já que ele roteirizou diversos desses filmes derivados), unindo personagens adolescentes, temas de rebeldia, sexualidade, irreverência e assasinatos gratuitos.
Quem não se lembra da cena de abertura de Pânico? Nela temos Drew Barrymore, cuja personagem passa a noite assando pipoca em sua casa, e recebendo um telefonema misterioso que parecia mais um trote. Vale lembrar que ao contrário de Neve Campbell, Barrymore era atriz conhecida desde os tempos de E.T., e estava no cartaz do filme. Ninguém esperava que ela fosse ser morta em menos de 5 minutos do início do filme pelo vilão. A cena apavorou salas de cinema pelo mundo em 1996. Se você não podia se sentir seguro dentro de casa, onde mais sentiria?
Confira a lendária cena abaixo:
Ao contrário de A Hora do Pesadelo, Craven esteve disponível e acabou dirigindo todos os filmes da franquia Pânico. Inclusive, Pânico 4 de 2011 acabou sendo seu último filme. Todavia, ele estava envolvido como produtor executivo na criação da série de TV baseada nos filmes, que deverá estrear ainda este ano.
O sucesso de Pânico levou Craven a dirigir Meryl Streep em Música do Coração. Fugindo um pouco do terror, o filme foi um drama musical que acabou dando uma indicação a Streep. Era uma situação rara, mas vimos que Craven era capaz de ser versátil, deixando um pouco sua especialidade de lado.
Craven fará falta. Ele sempre foi um diretor que ia direto ao assunto, estritamente profissional, dedicado, nunca deixou o ego dominar, e nunca deixou a vida pessoal afetar sua carreira. Mais do que qualquer coisa, foi um diretor autoral capaz de transitar entre obras pessoais marcantes e filmes comerciais que levantaram um gênero da obscuridade e fizeram dele um ídolo para muitos fãs. Ele será sempre lembrado.
Descanse em paz.
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:07
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