O significado pessoal de Star Wars
(16 de dez. de 2015)
Tenho certeza que muitos fãs possuem sua história de como descobriram Star Wars e como se apaixonaram por esse universo mitológico audiovisual.
Vou contar a minha história. Era 1983, e eu tinha no máximo dois anos de idade. O Retorno de Jedi acabara de estrear nos cinemas brasileiros, e para promover o filme, a Fox (ou alguma outra empresa) enviou Darth Vader, Chewbacca e um Stormtrooper para caminhar nos shoppings. Foi quando encontrei os três personagens. Mesmo sem saber ainda falar, abracei a perna do Chewbacca e não larguei mais. É uma memória vaga levando em conta a idade que tinha, mas lembro do abraço.
A reação de uma criança de dois anos normalmente seria de medo ou timidez numa situação dessas. Era evidente que aquilo era um sinal de uma paixão a ser aprofundada.
A partir dali, comecei a colecionar tudo que se pode imaginar relacionado a Star Wars, incluindo um livro 3D do filme original (daquele que você puxava tiras para revelar imagens). Eventualmente assisti à trilogia original.
O fim de O Retorno de Jedi foi uma montanha-russa emocional. O vilão que eu tinha aprendido a odiar durante toda a saga conseguiu mostrar que ainda tinha um resquício da pessoa de bom coração, e que seu filho foi capaz de enxergar este lado arriscando sua própria vida, e derrubando por completo qualquer certeza absoluta de que havia separação absoluta entre o bem e o mal.
Tudo que eu queria era ver novos filmes explorando aquele universo. Sabia que existia uma história não contada, até pelo número dos episódios na abertura. Se o filme original era o Episódio 4, teria de ter os três primeiros. Em 1994, a Lucasfilm anunciou que produziria os três primeiros filmes contando as origens de Darth Vader. E lá se foi uma espera de cinco anos, indo da infância para a adolescência, revendo os filmes inúmeras vezes, e jogando diversos jogos baseados neles. Não eram apenas filmes, eram livros, jogos interativos, um universo completo a ser explorado e curtido. Uma verdadeira fantasia pós-moderna, misturando elementos mitológicos clássicos com tecnologia de ponta.
Em maio de 1999, voltamos aos cinemas com a estreia de Episódio 1. Ao contrário da resposta de muitos fãs, abracei o filme sem ressalvas. A questão é que 16 anos de espera fizeram com que muitos depositassem expectativas cumulativas que acabariam sendo destroçadas independente do que vissem nos telões.
Também existe outra questão: até que ponto uma história é capaz de cativar seu lado infantil e estimular sua imaginação? Infelizmente, muitas pessoas, até por experiências variadas de vida, não conseguem recriar essa postura. Eu pessoalmente não tive nenhum problema em reencontrar minha curiosidade e fascínio infantil ao ver os novos filmes.
Quando a saga fechou com o Episódio 3, em 2005, eu tinha a mesma idade que Anakin quando ele caiu no lado negro. Não restava dúvida. Star Wars havia mostrado até o fim a jornada de uma família quebrada por um Jedi corajoso de bom coração que havia deixado o medo dominar suas decisões, alterando o destino de uma galáxia para sempre. Para mim, a história estava fechada e resolvida. Star Wars havia fechado as portas com chave de ouro.
Aceitei esse fim e segui em frente, abraçando ainda mais o mundo do cinema como vocação, ciente de que meu lado fã continuaria vivo, mesmo que não existisse mais produções de Star Wars.
Foi então que Lucas me surpreendeu e colocou no ar o desenho das Guerras Clônicas, que conseguiu durar seis temporadas. Além de realçar o compromisso de Star Wars com o público infantil, a série conseguiu abocanhar uma nova geração de fãs. De qualquer forma, era uma produção com prazo de término. Tinha certeza de que depois daquilo, Lucas deixaria aquele universo de lado para fazer seus filmes independentes, e que aquele seria o justo fim de uma saga que ele dedicou a vida toda para fazer direito.
Quando Lucas anunciou que Kathleen Kennedy assumiria a Lucasfilm e que ele se aposentaria, fiquei apreensivo. O que isso significaria para Star Wars ao longo prazo? Logo após, a compra pela Disney foi anunciada com direito a uma nova trilogia, e novos filmes. Era novembro de 2012. Para mim, era praticamente um renascimento.
Por mais que eu considere que a saga tenha se resolvido no final de O Retorno de Jedi, sempre tive curiosidade de saber o que aconteceria depois. Tudo bem que diversos autores tentaram contar essa história através de livros (que agora serão invalidados pela nova continuidade estabelecida pelos novos filmes), mas não era a mesma coisa sem Lucas. Essa é talvez minha única ressalva quanto ao Despertar da Força. Existe a história de que a Disney rejeitou idéias propostas por Lucas (que estúdio em sã consciência faria isso com o criador da saga?). Uma coisa que poucos mencionam é o fato de que cinco dos seis filmes foram produzidos de forma independente, com Lucas financiado cada projeto pessoalmente. Era um blockbuster sem a interferência corporativa de Hollywood. Um sonho de qualquer cineasta autosuficiente. De qualquer forma, acredito que Kennedy e Abrams foram capazes de recriar este universo tão pessoal da forma mais fiel, sendo justos tanto a Lucas quanto aos fãs.
Deu se início a uma longa espera de três anos, e fiz questão de contar cada dia dessa espera depois que a Disney anunciou a data de estreia do filme. Amanhã esta contagem regressiva chega ao fim, e estarei o mais próximo possível na frente da fila de espera. E mesmo que o filme não seja tão impactante quanto os melhores da saga (pra mim o Episódio 3 é o melhor disparado), tenho certeza de que sairei do cinema com a mesma animação e paixão que tinha quando criança.
E tenho de agradecer a George Lucas por isso....
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 09:40
Muito bacana a sua história, Eduardo.
Eu me tornei fã quando assisti ao Retorno de Jedi pela primeira vez, na Tela Quente que estava estreando na Globo! Lembro que o Sílvio Santos tirava sarro do filme, perguntando aos telespectadores se eles iriam assistir o "Retorno do Jegue" no concorrente. Hehehehe