Relembrando os X-Men no cinema - parte 7
(30 de mai. de 2016)
No último post viajamos com Wolverine para o Japão, na tentativa de superar seu papel na morte de Jean Grey. Quando voltou, descobriu que Xavier estava vivo e que estavam para enfrentar uma guerra com pouquíssimas chances de vitória....
....e eles perderam essa guerra. Perseguidos pelos implacáveis robôs Sentinelas, os X-Men foram dizimados, e a raça mutante tornou-se uma espécie em extinção. A tentativa de paz entre humanos e mutantes fracassou e o mundo foi condenado a um futuro apocaliptico de dor, destruição, arrependimento e sofrimento.
E assim chegamos ao sétimo filme deste universo: Dias de um Futuro Esquecido.
Se a trama lembra os filmes do Exterminador do Futuro, não é mera coincidência. O primeiro filme dirigido por James Cameron foi inspirado diretamente nos quadrinhos dos X-Men. Dias de um Futuro Esquecido foi publicado em 1980, quatro anos antes do filme.
Um dos fatores mais importantes por trás dos bastidores se concretizou, com o próprio Bryan Singer reassumindo a direção após uma década desde seu último trabalho no segundo filme.
A princípio, não seria o caso. Matthew Vaughn chegou a comandar a pré-produção, elaborando a trama com Singer, sua parceira Jane Goldman, e o produtor Simon Kinberg. Contudo, um outro projeto de Vaughn, Kingsman - Serviço Secreto, entrou em plena produção. Como Vaughn sempre teve paixão por filmes de espionagem, não foi uma escolha difícil. Como Singer já havia produzido Primeira Classe, foi uma transição bem mais natural do que a feita no terceiro filme.
O filme, em primeiro lugar, era uma continuação dos eventos de Primeira Classe, trazendo quase todo o elenco do filme anterior. Em segundo lugar, o filme teria uma trama de viagem no tempo, o que significaria a volta do elenco da trilogia original, ou pelo menos os sobreviventes. De certa forma, o filme pode ser visto como X-Men 4, já que sucede aos eventos do terceiro filme e Wolverine - Imortal.
No quesito adaptação, houve algumas alterações tais como a adaptação dos poderes de Kitty Pryde (Ellen Page) que nos quadrinhos eram executados por Rachel Summers. E seria Wolverine (Hugh Jackman) que viajaria para o passado ao invés de Pryde. Mas a essência da história foi mantida. Jackman teve o privilégio de contracenar com o Xavier de James McAvoy, o Fera de Nicholas Hoult e o Magneto de Michael Fassbender. Foi uma dinâmica que deu mais do que certo.
O arco dramático do filme foca na dinâmica entre Xavier e Mística (Jennifer Lawrence). Ambos tinham questões não resolvidas do filme anterior, principalmente a forma como Xavier sempre tentou controlar sua companheira de infância (que também reflete na forma como ele controlava a Jean na trilogia original, resultando na Phoenix Negra). A resolução desse conflito é crucial para a correção temporal. É um filme de crescimento e aprendizado para o Professor, e é também capaz de mostrar para Raven que existem soluções alternativas para superar os problemas nessa vida.
Com Singer de volta, tivemos também o prazer de ouvir novamente uma trilha sonora composta por John Ottman, editor do filme. E, pela primeira vez desde 2003, pudemos ouvir novamente a música-tema da série que ele havia composto. Quando ouvi isto pela primeira vez junto a abertura agora tradicional, foi pura nostalgia misturada com antecipação pelo que estava por vir.
E sendo franco, o filme é brilhante. Considero este o melhor filme de toda a série. Após sete filmes, Singer consegue transmitir uma maturidade na narrativa e no espectro visual. Dias de um Futuro Esquecido não demonstra aquela timidez dramática que os dois primeiros filmes tinham. Era uma timidez que contaminava até o design de produção e os figurinos. Não se podia dizer que era um filme de super-heróis e sim uma trama de ficção científica com alegorias de direitos civis. O medo de se criar um Batman e Robin era visível naquela época. Em 2014, já não é o caso. Um universo que se prezava por ser identificável começou a abraçar os elementos fantasiosos dos quadrinhos. Não ao nível dos filmes do Marvel Studios, mas com ambição e convicção mesmo assim.
Outro detalhe que impressionou neste filme foi o nível de violência. Me refiro ao uso indiscriminado dos poderes de Magneto, e como ele tenta manipular tudo ao seu redor. Na conferência de paz, ele havia conseguido mudar a trajetória de uma bala, acertando Mística e usando a bala para puxar seu corpo. Você sente a dor que ela sente naquele momento. Depois, no terceiro ato, presenciamos a forma brutal como Magneto se livra de Wolverine, prendendo seu corpo a concreto e metal e o afogando no Rio Potomac. Final apavorante para o canadense. Nunca na trilogia original que se via ações neste nível.
Também tenho de mencionar a coreografia dos X-Men no futuro. A forma como eles tentam driblar os invencíveis Sentinelas mostra uma coesão e trabalho de equipe que jamais havia sido vista num filme de super-herói. Nem o excelente Capitão América: Guerra Civil ou os filmes dos Vingadores conseguem orquestrar a ação com tamanha objetividade e distância.
Mística havia assassinado Bolivar Trask (Peter Dinklage), o cientista criador das Sentinelas. Como haviam capturado traços do DNA mutante dela, os cientistas da corporação foram capazes de adaptar as Sentinelas a absorver qualquer poder mutante, deixando-os literalmente invencíveis. Isso havia acarretado um futuro sem esperanças. Coube a Logan voltar a 1973, convencer Xavier e Fera, e ajudá-los a mudar o trágico destino da raça mutante.
Não dá para falar desse filme e não comentar a sequência que envolve Mercúrio (Evan Peters) tentando libertar Magneto do Pentágono. Singer teve a audácia de tocar "Time in a Bottle", de Jim Croce, e mostrar toda a sequência em extremo slow-motion. Ao mesmo tempo que você vê de forma subjetiva os poderes do personagem, Singer e Peters conseguem injetar humor numa situação de alta tensão. Deu tão certo que não havia como não repetir este feito na continuação.
Por fim, há de se comentar o climax do filme. Os quadrinhos haviam retratado a forma como os Sentinelas assassinam os X-Men sobreviventes. O filme não deixa por menos e mostra tudo, da forma como Tempestade (Halle Berry) é penetrada pela lâmina da Sentinela até a hora que eles abrem fogo contra Xavier (Patrick Stewart) e Kitty Pryde. A cena é entrecortada com um discurso do jovem Magneto revelando a existência de mutantes perante as câmeras de TV para o mundo todo enquanto o velho Magneto lamenta-se de tudo que fez no passado. É um final carregado de emoção.
E em seguida, após Mística largar a arma no chão, o filme faz o que os quadrinhos (e as animações) jamais haviam feito: mostraram o futuro alterado.
Isso para mim foi uma questão pessoal. Sempre me revoltei contra os filmes do Exterminador por essa razão. Jamais mostravam as mudanças no futuro, deixando ou tudo em aberto ou voltando atrás e reiterando um fim apocaliptico. Também era uma questão nos quadrinhos dos X-Men que nunca víamos uma resolução.
Singer e Kinberg fizeram questão de mostrar tudo. A consciência de Wolverine volta ao futuro e vê a escola de pé, com todos os alunos indo às aulas. Com Fera, Vampira, Tempestade, Homem de Gelo, Xavier, todos os X-Men vivos, seguindo com suas vidas livres num futuro quase perfeito....
....e então Logan vira o corredor e dá de cara com Jean Grey (Famke Janssen) viva.
É nessa hora que os olhos encheram-se de lágrimas. Todo o sofrimento que o personagem passara pelo terceiro X-Men e também em Wolverine - Imortal haviam sido por uma razão, e com esse filme, a narrativa foi capaz de reverter tudo e levar o espectador nessa jornada pessoalmente, vendo a reação final de Wolverine. Com Ciclope (James Marsden) também vivo, ganhamos uma conclusão emocionante e catártica para a trilogia original.
Os eventos desse filme mudaram inteiramente a linha do tempo original, eliminando quase que por completo os eventos de X-Men, X-Men 2, X-Men: O Confronto Final, Wolverine - Imortal e X-Men Origens: Wolverine. Assim, Dias de um Futuro Esquecido serve como uma continuação da saga dos jovens X-Men ao mesmo tempo que fecha a jornada do elenco original com chave de ouro.
Não dá para ter um final melhor que esse. Com o sucesso de crítica e bilheteria, a continuação já estava programada. E a cena pós-créditos deixou isso claro.
Antes de abordar Apocalipse, temos uma visita a fazer a um certo mutante cujo ator desejava trazer para as telonas de cinema de uma forma completamente inusitada. Enquanto isso, fique com a cena pós-créditos, e também a cena que Mercúrio tira Magneto da prisão.
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:30
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