Após o sucesso de A Ira de Khan, a ordem era seguir em frente com Jornada nas Estrelas no cinema. Entretanto, o estúdio lembrou ao produtor Harve Bennett que a prioridade era trazer Spock de volta. Faz todo sentido. Spock sempre foi o personagem mais popular dentre os fãs, e muitos ainda escreviam cartas ao estúdio pedindo sua volta.


A questão era como trazer ele de volta sem reverter o impacto dramático criado no segundo filme?


Felizmente, Bennett e Leonard Nimoy já haviam antecipado essa questão quando filmaram uma breve cena na qual Spock incapacita McCoy com um toque vulcano e transfere suas memórias usando a frase "lembre-se". A questão agora era conseguir que Nimoy reprisasse o papel.


Para Nimoy era uma decisão simples de se fazer. Contudo, ele não voltaria sem certas garantias. Uma era a questão salarial. Nimoy e William Shatner tinham um acordo de que a cada filme, um dos agentes negociaria com o estúdio para levantar o cachê de ambos. Esse era um fator que a Paramount pôde resolver. Mas havia outro fator inesperado:


Nimoy só voltaria a Star Trek se fosse como diretor do filme.


Foi aí que a Paramount barrou as demandas e parou pra ter uma longa discussão. Até então, atores com pretensões de dirigir não eram bem vistos por estúdios. A menos que fosse uma estrela com o cacife de Clint Eastwood ou Robert Redford, não era comum que estúdios passassem tamanha responsabilidade para atores. A maioria não havia estudado para isso. Eles só tinham a experiência de estarem nos sets. Para o estúdio, nada garantia que eles seriam responsáveis ao gastar o dinheiro deles. Um diretor tem a obrigação de filmar dentro do prazo e do orçamento. Seria Nimoy capaz disso?


Nimoy negociou ferozmente com os executivos da Paramount, e Bennett serviu como conciliador. Juntos, eles elaboraram a trama do filme. E, ao contrário dos dois primeiros longas, o roteiro de Star Trek III fluiu de forma bem mais natural, sem interrupções ou dificuldades. Nicholas Meyer foi cotado para trabalhar no roteiro, mas ele preferiu não se envolver devido a duas divergências quanto à ressurreição de Spock.


O ponto de partida pra história foi uma das últimas frases de Spock a Kirk: As necessidades de muitos sobrepõem as necessidades de poucos ou apenas um.


Nimoy e Bennett reverteram essa frase, afirmando através de Kirk e a tripulação da Enterprise, que as necessidades de um sobrepôem as necessidades de muitos.


Assim, criou-se uma trama na qual Kirk sacrifica tudo o que tem para trazer seu amigo de volta. Como muitos devem se lembrar, a frota estelar está aposentando Kirk e a própria Enterprise. Quando ele é visitado pelo pai de Spock, Sarek, Kirk descobre que McCoy herdou a essência de Spock e precisa reaver o corpo do vulcano. Kirk vai contra as ordens da frota e rouba a Enterprise para levar McCoy ao planeta Gênesis. Em Gênesis, A Tenente Saavik e David, filho de Kirk, estudam o planeta que criaram quando encontram Spock vivo e em estado de crescimento acelerado. David revela que o planeta irá se autodestruir rapidamente. Contudo, os Klingons invadem o planeta e matam o filho de Kirk. Cabe ao capitão derrotar os Klingons e reaver seu amigo. No processo, ele destrói a própria Enterprise para eliminar a ameaça e assume controle da ave de rapina Klingon, que leva Spock e McCoy ao planeta dos vulcanos.


A história complementa A Ira de Khan em todos os aspectos. Kirk paga um preço impensável ao perder o filho e destruir sua nave. Mais do que isso, o final aberto do filme, que termina com Spock vivo e a tripulação foragida garantiu que o filme teria mais uma continuação.


O orçamento foi um pouco maior do que o filme anterior, mas ainda limitado. Você percebe que o planeta Gênesis é um set feito barato. Mas ainda assim, eles foram capazes de criar várias naves espaciais novas além da enorme plataforma espacial da Frota Estelar.


O filme não foi tão bem recebido quanto A Ira de Khan. Christopher Lloyd viveu Kruge, o comandante Klingon. Para os fãs, ele não foi um vilão tão marcante quanto Khan. Isso inclusive foi antes dele tornar-se famoso por De Volta para o Futuro. Ao mesmo tempo, Kirstie Alley não quis voltar para viver Saavik. Isso fez com que Nimoy escalasse Robin Curtis no papel. Curtis faz um bom trabalho, mas você vê que o tom da personagem mudou.


Vale também mencionar que no roteiro original, os vilões eram para ser Romulanos. Contudo, questões logísticas e orçamentárias fizeram com que mudassem para Klingons. Mantiveram a Ave de Rapina, que era originalmente um design dos Romulanos.


De qualquer forma, o filme ainda impressiona com cenas como a destruição da Enterprise. Os especialistas da Industrial Light & Magic se sobressairam nessa sequência. Essa foi uma perda tão grande quanto a de Spock, tanto para Kirk e a tripulação quanto para os fãs. Uma pessoa que protestou veemente contra essa decisão foi Gene Roddenberry. Para ele, um piloto veterano da Segunda Guerra, era como se tivessem matado um filho, e Bennett foi o alvo direto em sua raiva.


Um detalhe que Nimoy incluiu no roteiro foi dar mais foco pro elenco de apoio. James Doohan, George Takei, Walter Koenig e Nichelle Nichols todos tiveram alguma cena de destaque no filme. Levando em conta que eles sempre ficaram pra escanteio na série original, foi a oportunidade que Nimoy teve de dar um agrado. Uma das melhores e mais engraçadas cenas foi a que Scotty sabota os motores da nave Excelsior e ainda solta um palavrão contra a voz do computador da nave. A cena em que Uhura aponta sua arma contra um oficial arrogante também é uma das clássicas.


No fim das contas, o filme termina com Spock vivo, McCoy recuperado e Kirk satisfeito em ter o vulcano de volta, apesar do sacrifício. E Jornada IV já estava sendo planejado por Bennett e Nimoy. Eles tinham planos ousados pro próximo filme.


No próximo post, falaremos de baleias jubartes e o aniversário de 20 anos de Star Trek. Enquanto isso, fique com uma das melhores cenas de À Procura de Spock.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 12:15  

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