Nesta semana foi anunciado que os diretores Phil Lord e Christopher Miller, responsáveis pelo filme que conta as origens do pirata Han Solo, foram dispensados da posição pela Lucasfilm em meio as filmagens.


Resolvi esperar um pouco antes de opinar a respeito dessa mudança repentina numa mega-produção blockbuster. De um filme de Star Wars, ainda por cima.


Aparentemente a saída dos dois foi resultado de diferenças de visão criativa com a central de comando da Lucasfilm, chefiada por Kathleen Kennedy, sucessora de George Lucas. O estilo de improviso dos diretores - conhecidos por animações como Tá Chovendo Hamburger - não funcionava com o esquema de produção bem mais rígido que segue o roteiro à risca. Inclusive o roteirista e produtor Lawrence Kasdan expressou uma certa falta de afinidade com os diretores por não seguirem o que estava escrito.


A produção ainda tem algumas semanas de filmagem, e ainda deverá passar por algumas refilmagens posteriormente. As refilmagens em si já estavam programadas. Como ocorrera em Rogue One, isso faz parte do processo (no qual até trouxeram o cineasta Tony Gilroy para criar várias cenas de apoio).


A questão que todos perguntam agora é se há problemas sérios por trás da produção e se este será o primeiro longa com potencial para dar errado em todos os aspectos.


Em primeiro lugar, vale lembrar que fãs de Star Wars tem opiniões fortes e muitos atacam vários dos filmes por não corresponderem as suas expectativas. Mas, em matéria de logística, posso dizer com absoluta certeza que até agora todos os filmes da saga foram produções de sucesso, com pouquíssimos contratempos por trás dos bastidores, todos guiados com competência tanto por Lucas quanto por Kennedy. E todos tiveram lucro. Mesmo os filmes mais odiados por muitos desses fãs como A Ameaça Fantasma tiveram produções bem sucedidas, onde todos os envolvidos sabiam o que estavam fazendo e dando o melhor de si para realizar a visão de Lucas.


Nesse caso agora, é a primeira vez que um diretor é demitido. Algo que nunca havia acontecido em Star Wars.


De certa forma, sempre questionei se vale realmente a pena ter um filme sobre Han Solo. A mitologia de Star Wars vai muito além do personagem, explorando as origens dos cavaleiros Jedi, da força, de inúmeras guerras e conflitos que assolaram a galáxia. E Han Solo já foi devidamente explorado em quatro filmes, graças a performance de Harrison Ford e seu carisma e capacidade de criar um personagem anti-herói num mundo de arquétipos. O motivo que existe esse filme atualmente é apenas para agradar um específico segmento do público composto de fãs exclusivos do personagem. Existe tanto potencial a ser explorado nesse universo que acho que fazer um filme sobre as origens do pirata chega a ser um desperdício de recursos. Se forem fazer filmes-solo, por que não fazer uma obra sobre o período de Obi-Wan Kenobi hermita no deserto (Ewan McGregor está quase na idade certa) ou explorar as aventuras de Boba Fett*.


*Essa idéia chegou a ser desenvolvida pelo cineasta Josh Trank, dentro do estúdio, mas acabou sendo descartada.


Vale lembrar que Star Wars sempre foi uma série de filmes comandada por produtores. A teoria de autor defendida por cineastas como Elia Kazan, na qual o diretor é a força suprema por trás de um filme, é bastante falha. É falha porque ignora a relevância do roteiro como força-motriz por trás de qualquer filme com o mínimo de estrutura narrativa (nem sempre diretores são roteiristas), e também porque ignora as demais pessoas que contribuem em suas áreas especializadas, como direção de arte, música, edição e assim por diante. Isso não quer dizer que o diretor não é relevante em determinar o rumo de um projeto. Com certeza é, mas também não é o único "pai" por trás desse empreendimento. Filmes são receitas compostas por vários ingredientes.


No caso de Star Wars, George Lucas foi a força principal durante décadas. Como ele era independente, ele tinha autonomia para fazer o que quisesse com sua criação. Mesmo no Império Contra-Ataca e no Retorno de Jedi, que foram dirigidos por outras pessoas, ele era a autoridade final. Filmes da Marvel operam da mesma forma, assim como a série James Bond. Produtores escolhem diretores, mas ainda supervisionam todo o processo e tem autoridade final, incluindo a de determinar a edição final do filme.


De qualquer forma, eles não vão abortar a produção agora ou adiá-la. Há muito dinheiro em jogo, e um universo cinematográfico cuja integridade tem de ser mantida. Se fosse na época em que a Lucasfilm ainda era independente, talvez tivesse mais motivo de preocupação, mas com a Disney por trás, eles tem a liberdade de injetar dinheiro em qualquer problema ou obstáculo.


Se isso realmente resolverá o problema já é outra questão. Mas não sabemos completamente o status atual do filme e só saberemos quando ele for lançado em maio do próximo ano. A data de lançamento permanece a mesma. Já se sabe que Ron Howard irá assumir a direção no lugar de Lord e Miller. É uma escolha interessante. Howard nunca foi dos mais autorais, e sempre teve uma boa relação com a Lucasfilm, lembrando que ele foi o diretor de Willow (1988), produzido por Lucas, e também atuou em American Graffiti.


Resta ver como ficará o filme. Ainda descobriremos se Alden Ehrenreich conseguirá encarnar o papel imortalizado por Ford, se Donald Glover fará o mesmo com o Lando Calrissian de Billy Dee Williams. Não sabemos nada a respeito da trama (imagino que Solo vencendo a Millennium Falcon de Lando no jogo de cartas faça parte da história). Tampouco sabemos quais são os personagens vividos por nomes de peso como Woody Harrelson e Emilia Clarke, ou como farão parte da trama de Han Solo. Resta ver por conta própria até para saber se há realmente uma história interessante e relevante a ser contada, assim como teve em Rogue One - que deu certo principalmente por depositar a trama em personagens completamente novos.


Temos quase um ano até descobrir como tudo será.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 12:12  

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