A Etnia do Personagem

(8 de jul. de 2019)




Nessa última semana, surgiu uma forte controvérsia online a respeito da escolha de qual atriz deve interpretar a Ariel no filme live-action da Pequena Sereia. A cantora e atriz Halle Bailey foi escolhida para o papel da princesa, gerando barulho e protestos por parte de fãs da animação original de 1989.


Eles alegam que Ariel sempre foi uma personagem branca e ruiva. E que colocar alguém de etnia tão diferente descaracterizaria o espírito do original. Há também aqueles que acham que essa teria sido uma escolha politicamente correta demais, alegando que abrir espaço para minorias por obrigação social privaria outros atores potencialmente mais talentosos da oportunidade. Dessa forma, a meritocracia seria de alguma forma deixada de lado em prol de um suposto "mimimi".


Já eu, digo o seguinte: é fácil demais para aqueles que sempre viveram uma vida repleta de privilégios dizer com tanta propriedade que escalar uma pessoa de outra raça é errado. É fácil demais pra alguém que nunca enfrentou preconceito e rejeição dizer isso. Uma pessoa de pele branca não enfrentou séculos de escravidão, racismo e perseguição.


E não lembro de ninguém reclamar quando colocaram atores brancos americanos em papéis de etnia e nacionalidade completamente diferentes. Por que isso se torna algo a ser questionado quando o ator é de outra raça?


O fato é que o cinema está acordando pra questões de representatividade em seus altos escalões. Isso é algo bom. Há inúmeros atores talentosos das mais diversas raças e nacionalidades que sempre foram ignorados ou esquecidos pelas agências de elenco.


O mesmo vale para outros profissionais como roteiristas e diretores. A porcentagem de mulheres diretoras ainda é grotescamente inferior a de homens. E isso não acontece só porque existe uma fatia maior de diretores masculinos com mais talento, e sim porque a indústria sempre protegeu seus semelhantes e não deu a devida oportunidade pro sexo oposto. Quem não lembra do escândalo que bateu na porta da Pixar quando John Lasseter substituiu a diretora de Valente, Brenda Chapman, por um homem, Mark Andrews? Agora, após a revelação dos abusos de Lasseter, fica claro que o Clube do Bolinha sempre teve prioridade em Hollywood.


O fato é que Halle Bailey não foi escolhida pela cor da pele, e sim porque é uma cantora e atriz de altíssimo talento e qualidade, com uma voz riquíssima, mais do que capaz para viver a pele de Ariel. E adaptações de obras anteriores podem e devem ter liberdade criativa para alterar elementos de sua trama se aprimorar o resultado.


E a própria Jodi Benson, atriz que dublou Ariel na animação original, defendeu a escolha de Bailey pro papel. No fim das contas, Ariel não foi uma personagem marcante porque era uma menina ruiva de pele branca, e sim porque era uma princesa rebelde em busca de um mundo mais amplo que aquele no qual vivia. Isso não muda em nada a essência da personagem se mudarem a cor do cabelo e da pele.


E aqueles que ainda assim protestam, eles tem esse direito. Mas vale lembrar que o mundo caminha pra frente, e esse tipo de mentalidade puramente racista (que é exatamente isso) tende a cair no esquecimento, e os conservadores vão ficando mais e mais pra trás a medida que a sociedade progride pra uma estrutura mais tolerante e diversa.


Se o filme mesmo vai ser bom é assunto pro futuro - o fato de ser mais um remake de algo já feito é questionável. Mas por enquanto, defendo com unhas e dentes a escolha de Bailey como protagonista desta história.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:52  

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