O Quarteto Fantástico de 1994
(4 de ago. de 2015)
Quarteto Fantástico está prestes a voltar aos cinemas. Como muitos já sabem, o filme do diretor Josh Trank que estreia nesta quinta-feira é um reboot feito pela Fox para apagar a má recepção dos dois filmes que eles haviam lançado em 2005 e 2007. Como muitos devem lembrar esses foram os filmes com Jessica Alba - considerada por muitos péssima no papel de Sue Storm - e que tinham uma mistura de tom cômico com situações ridículas que dividiram as opiniões dentre os fãs. Por serem os quadrinhos de maior sucesso da Marvel, era evidente que o sucesso deste filme tornaria-se emblemático, e que o fracasso seria um golpe contra a indústria de adaptações cinematográficas de quadrinhos da mesma forma que Batman e Robin foi em 1997. Como se viu, os fãs dos quadrinhos não engoliram estas versões dos personagens.
O que nem todos sabem é que Quarteto Fantástico teve outra versão cinematográfica produzida na década de 1990. Só que com um detalhe: o filme nunca foi lançado nos cinemas.
Tudo começou em 1983, com o interesse do produtor alemão Bernd Eichinger que tentou conseguir os direitos de adaptação do próprio Stan Lee, criador dos personagens. A companhia de Eichinger, a Neue Constantin, adquiriu os direitos em 1986 por cerca de 250 mil dólares. Contudo, questões orçamentárias impediam a viabilidade de produção, e o contrato para realizar um filme tinha prazo até 1992. Se ele não tivesse capacidade de realizar o filme até lá, ele perderia a oportunidade de fazê-lo pois os direitos voltariam para a Marvel.
Como não havia como estender sua opção dos direitos de produção, e estando determinado a manter a opção de produzir o filme, Eichinger resolveu fazer uma produção pequena e barata, e assim aliou-se a Roger Corman, especialista do ramo.
As filmagens começaram em dezembro de 1992, com direção de Oley Sassone, mais conhecido por montar clips musicais. Para encarnar os papéis dos heróis, eles contrataram Alex Hyde-White para interpretar Reed Richards, o Homem-Elástico, Jay Underwood para fazer Johnny Storm, o Tocha Humana, Rebecca Staab para interpretar Sue Storm, a Mulher Invisível, e Michael Bailey Smith para interpretar Ben Grimm, o Coisa.
Aí, entra uma questão vital: por que não conseguiam levantar o dinheiro necessário para realizar o filme da melhor maneira possível? Afinal, em 1994, Hollywood já operava na mentalidade blockbuster. Filmes como Star Wars e De Volta para o Futuro já tinham passado pelos cinemas, mostrando que era possível para outros trilharem esse mesmo caminho.
Mas nesse caso, estamos falando de adaptações de super-heróis vindas de histórias em quadrinhos. Até então, as duas grandes histórias de sucesso eram apenas Batman e Superman. E mesmo assim, não eram casos de retorno 100% garantido. Superman fez sucesso com seus dois primeiros filmes, e Batman apenas com o original de 1989. Todas as continuações foram incapazes de atingir as mesmas expectativas, e tiveram críticas divididas, e bilheterias reduzidas.
Além disso, vale lembrar que na época, a Marvel não era o império de sucessos que é hoje. A divisão de histórias em quadrinhos impressas sofria severamente com vendas reduzidas que inclusive levaram a companhia a pedir concordata em 1996. Adaptar seus personagens para o cinema era um processo arriscado, e muitos deles estavam presos com outros estúdios, que não conseguiam chegar a um consenso (caso de Homem-Aranha, que levou mais de uma década até produzirem o primeiro filme de Sam Raimi).
Seja como for, a produção seguiu adiante com a mão de Corman. Tudo foi filmado em três semanas. Só que nenhum dos envolvidos na produção, incluindo os atores, faziam ideia de que eles jamais sairiam nos cinemas.
De qualquer forma, ao ver o filme dá para se entender o porquê dele jamais ter sido lançado comercialmente:
Como podemos ver, a qualidade de produção deixa a desejar, com efeitos visivelmente toscos até para quem assistiu a seriados da década de 1960. Evidentemente, uma produção barata feita às pressas. Em outras palavras, um filme B.
Isso não impediria que o filme fosse lançado como um produto alternativo. Não havia porque não fazer isso. E esse era o rumo que haviam tomado. Inclusive, apresentaram o filme em uma convenção de quadrinhos em Los Angeles, que rendeu aplausos do público, dando início a uma campanha de marketing desprovida de fundos, mas repleta de paixão por parte de todos os envolvidos, incluindo o elenco. Parecia que o filme seria lançado em 1994 assim mesmo....
Também havia circulado a teoria de que Eichinger teria feito o filme as pressas e impedido seu lançamento somente para lucrar com a permanência do contrato de produção. Mas aparentemente, o que realmente aconteceu foi que a Marvel interviu no lançamento ao ver o filme pronto. E de acordo com Eichinger, Avi Arad, um dos produtores executivos da Marvel, comprou o filme deles por alguns milhões de dólares, e supostamente teria ordenado que todas as cópias existentes fossem destruídas.
Anos depois, quando o filme de 2005 foi promovido e lançado, deu para ver que a Marvel tratava o filme original como seu filho bastardo, ignorando sua existência. Tanto que a LA Magazine tentou conduzir uma entrevista com Arad na época para falar do filme original, mas ele disse que falaria apenas do então filme sendo lançado. Tanto ele quanto Stan Lee preferiam não manchar a imagem da Marvel levantando aquelas lembranças.
Hollywood seguiu em frente, e Eichinger eventualmente produziu o filme de 2005 com pleno apoio da Fox, direção de Tim Story, e todo o aparelhamento para fazer dele um blockbuster bem-acabado. E como se viu no resultado final, nem todo o melhor acabamento de produção foi capaz de mascarar um roteiro deficiente e atuações que desapontaram muitos....
Cinema é um negócio, mas também é uma arte. Por mais que a existência do longa original seja um inconveniente para diversas figuras influentes envolvidas, parto da opinião que arte merece ser expressada e liberada para o público que esteja interessado em descobrí-la. Existem inúmeros filmes que foram engavetados por motivos semelhantes, e que merecem ser descobertos, independente da reação que eles causem, porque no fim das contas é para isso que eles são feitos: para gerar reações.
Vale conferir também o documentário Doomed!. que aborda a produção do filme mais a fundo. Segue o trailer dele logo abaixo:
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:45
0 comentários:
Postar um comentário