Oscar 2016 - O Veredito
(29 de fev. de 2016)
Pode se dizer que foi uma noite interessante.
O Oscar deste ano foi marcado por altos e baixos, com tom bastante inconsistente.
Acho que o próprio Chris Rock foi reflexo dessa inconsistência em seu repertório de piadas e alfinetadas. Certas horas ele acertava, mas em outras era quase um desastre. Levando em conta toda a crise gerada pelos boicotes de atores negros (devido a ausência de atores negros dentre os candidatos) esperava-se que houvesse um esforço por trás da produção em abordar essa questão. Só que o humor de Rock não poupou ninguém, nem mesmo os que boicotaram. Na tentativa de mesclar humor, política e causa social, o Oscar acabou passando uma mensagem quase elitista e reacionária.
E isso sem falar do ritmo, com prêmios técnicos sendo apresentados às pressas enquanto dedicavam horas para cada categoria de atuação. O fato de colocarem diversos números musicais* fez com que a cerimônia se arrastasse para uma duração de três horas e meia. Levando em conta o fuso horário de Los Angeles, isso significa que para espectadores brasileiros, a cerimônia se estendeu até 2h da manhã.
*Os números representavam cada indicado a melhor canção original.
Felizmente, deixando o teor das apresentações de lado, foi uma escolha interessante de vencedores.
E finalmente premiaram Leonardo DiCaprio após anos lutando pelo prêmio. Eu diria até que O Regresso não foi nem de perto sua melhor performance, mas é tradição no Oscar premiar o artista pelo conjunto do trabalho após omissões passadas. Foi o mesmo caso com Scorsese que ganhou melhor direção por Os Infiltrados, em 2007. De qualquer forma, foi uma vitória merecida para Leo.
E dá para ver que foi um discurso ensaiado inúmeras vezes, mas foi carregado de emoção e ainda deu espaço para abordar a questão pertinente do aquecimento global, que afetou diretamente as filmagens do longa.
A grande surpresa da noite sem dúvida foi a vitória de Spotlight como Melhor Filme, que até então tinha apenas uma estatueta de Melhor Roteiro Original. Todo mundo apostava em O Regresso, mas felizmente os membros da academia foram sensatos e deram uma chance ao pequeno filme de Tom McCarthy ao invés de premiar novamente Iñárritu (que ainda assim levou Melhor Direção). A vitória de Spotlight é um reconhecimento do trabalho de jornalistas investigativos*, uma parte da imprensa que há anos vem sendo esquecida e ignorada, principalmente com o advento da mídia digital. Tem de se valorizar estes profissionais.
*Que nem de longe se pratica no jornalismo brasileiro. Fofoca de terceiros não se qualifica como investigação.
A Grande Aposta levou apenas Roteiro Adaptado, mas foi merecida, e o discurso de Charles Randolph e Adam McKay foi um lembrete de que não podemos permanecer reféns nesse mundo dominado por ações e capital especulativo. Bancos e corporações que não tem os interesses da maioria da população.
Nas categorias técnicas, quem apostava em Star Wars ou O Regresso perdeu feio. Mad Max: Fury Road levou seis prêmios de lavada. E, na minha opinião, todos eles merecidos. O filme de George Miller é uma fusão perfeita de todo esse esforço. É o como o filme original teria sido se tivesse todos os recursos, tecnologia e orçamento para realizar de forma plena a visão de Miller. E o fato é que Star Wars jamais iria levar essas premiações. É dificílimo sequências levarem o mesmo reconhecimento que o filme original (o filme de 1977 foi o único a levar Oscars).
Já O Regresso levou apenas três estatuetas. Direção de fotografia era garantido, e o trabalho primoroso de Emmanuel Lubezki fala por si só, unindo perfeitamente luz, sombra e cor em cada frame. É um filme para ser visto na tela grande.
Eu aparentemente fui um dos poucos a curtir Writing's on the Wall, a canção de 007 contra Spectre. Achei a vitória da música merecida, a contra-gosto dos fãs de Lady Gaga. E curti o discurso de Sam Smith, apesar dele se confundir ao achar que foi o primeiro artista gay a ganhar um Oscar (que na verdade foi Dustin Lance Black pelo roteiro de Milk).
Na categoria de animação, foi vitória da Pixar pelo excelente Divertida Mente. Infelizmente não foi desta vez para o Brasil, cuja animação O Menino e o Mundo concorria. Perder para Pixar e Studio Ghibli (When Marnie was there) é Davi perder para Golias. Não há motivo para vergonha. O filme de Pete Docter ganhou por ter um dos roteiros mais criativos e emocionantes dos últimos anos.
Quanto ao filme brasileiro, fiz uma pesquisa quanto a disponibilidade dele em cinemas cariocas. Ele tem apenas duas sessões programadas para uma sala em Botafogo, e depois apenas no Instituto Moreira Salles. É um desrespeito das exibidoras em não incluir o filme em sua grade de programação. O filme foi indicado ao Oscar, mas aparentemente eles preferem preencher seus horários com repetições intermináveis de comédias globais ou Os Dez Mandamentos.
Nessas horas, a gente vê o quanto o mercado valoriza de verdade a cultura nacional....
Mas de qualquer forma, mesmo com certas escolhas de apresentração, considero essa edição do Oscar uma das mais interessantes do ponto de vista dos ganhadores. Valeu a longa noite adentro, sem dúvida.
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:26
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