Relembrando a série Alien
(10 de mai. de 2017)
Amanhã estreia nos cinemas Alien: Covenant, o sexto filme da série que teve seu início nos cinemas há quase 40 anos.
Foi em 1979 que estreou Alien - O Oitavo Passageiro, filme que praticamente lançou a carreira de Sigourney Weaver. Foi também o filme que lançou a carreira de Ridley Scott. O que poucos sabem é que o filme, uma mistura inusitada de suspense, terror e ficção científica, quase não foi produzido. Na época ainda havia forte preconceito por parte dos estúdios quando o assunto era ficção científica. Foi graças a intervenção do executivo Alan Ladd Jr. (o mesmo que bancou Star Wars) que o filme foi adiante.
O roteiro de Dan O'Bannon serviu como ponto de partida para os designers H.R, Giger e Carlo Rambaldi cujo trabalho na criação do Alien representou uma revolução visual. Isso sem falar na trilha impactante de Jerry Goldsmith, que uniu a grandiosidade dos temas de Star Trek com a tensão digna de um suspense hitchcockiano.
Como era de praxe na década de 1970, a maioria dos filmes tinham uma visão pessimista da humanidade e do mundo. A ficção científica era uma das expressões derivadas dessa visão cada vez mais fragmentada e menos metafísica.
Contudo, hollywood ainda não havia até então seguido esse caminho. Para eles, era mais lucrativo bancar produções espaciais com aventura, heroísmo e diversão. Alien foi uma das primeiras produções de ficção científica a ir contra esse mandato. Star Wars, Jornada nas Estrelas e Contatos Imediatos eram o que o público esperava. Mesmo a versão original de Battlestar Galactica seguia esse mesmo tom leve apesar de sua trama.
Já Alien fala por si só. Ele redefiniu o conceito de suspense e subverteu expectativas. A imagem do monstro saindo da barriga do tripulante representa a idéia de que tudo aquilo que é mal ou perverso pode nascer de dentro da melhor pessoa. Além de ser uma imagem merecidamente nojenta, é um retrato dessa deturpação do projeto divino e da visão pessimista que a ficção científica é conhecida por expor, principalmente na literatura.
E assim como Tubarão em 1975, Ridley Scott aderiu a idéia de que menos acaba sendo mais. Minimizar as aparições do alien possibilitaram momentos de tensão ainda mais agudos. A ausência dele foi tão sufocante quanto os momentos em que se expõe.
Esse foi um dos princípios que James Cameron lidou de forma diferenciada na continuação. Aliens - O Resgate, em 1986, foi um filme bem mais aventureiro e que teve uma produção prolongada. Do ponto de vista dos fuzileiros, o filme ainda teve momentos de tensão como a cena em que eles rastreiam os pequenos aliens e descobrem estar dentro do teto da nave.
O filme também teve de retratar a dor pessoal de Ripley ao descobrir que perdeu a família após passar tanto tempo no espaço. Essa era uma idéia pouco vista no cinema (recentemente revista em Interestelar). Foi assim que surgiu a trama em que ela adota a jovem Newt. O filme, mesmo sendo diferente, conseguiu o que poucas continuações são capazes: ter o mesmo impacto que a obra original. E foi graças a Cameron, o designer Stan Winston, o compositor James Horner com sua trilha bombástica, e as performances de Weaver, Bill Paxton, Carrie Henn, Jennette Goldstein, Paul Reiser, Lance Henriksen e Michael Biehn que sustentaram essa montanha-russa com cenas de arrancar os cabelos e momentos de pura emoção.
Foi também um filme que fez de Ripley uma heroína armada aos dentes. O medo, a timidez e a solidão da Ripley do primeiro filme deram lugar a uma mãe armada aos dentes pronta para aniquilar qualquer ameaça. Foi a precursora da Sarah Connor que Cameron criaria para O Exterminador do Futuro 2.
Era evidente que superar os dois primeiros filmes seria de certa forma uma tarefa impossível.
Só que a Fox conseguiu tomar todas as decisões erradas nos anos seguintes. O que teve em seguida foi uma produção conservadora que anulou todas as escolhas narrativas dos longas anteriores. Alien 3 se resume a Ripley passando duas horas arrastadas num planeta-prisão até seu inevitável sacrifício. A direção do então estreante David Fincher não foi capaz de salvar um roteiro fraco. Lançado em 1992, o filme causou divisão entre os fãs. Alguns criticavam a forma como a trama retrocedeu, anulando os elementos introduzidos no segundo filme enquanto outros louvavam o retorno a uma trama mais simples e menos blockbuster.
A decisão de matar Ripley não podia ser mais arbitrária. Metade do sucesso da série pode ser depositado nos pés de Sigourney e sua personagem. De início, ela era o avatar para o público conhecendo aquele mundo. A medida que a série foi progredindo, ela tornou-se algo além. Ao fundir-se com o alien, ela se transformou em algo desconhecido. E ao invés de explorar esse rumo potencialmente fascinante, os roteiristas a matam. Do ponto de vista da personagem, até compreendo um certo desejo de sacrifício (também devido a perda sem sentido da filha adotada graças ao roteiro). O problema é que haviam duas vertentes batendo de frente. Uma que defendia o fim da história e outra que argumentava que a série tinha de continuar. Acho essencial saber quando é a hora de dar um fim a uma história. Mas não era para ser feito dessa forma.
A morte de Ripley no terceiro filme forçou uma manobra de roteiro nem um pouco sutil. Alien - A Ressurreição, lançado em 1997, partiu da iniciativa da Fox que buscaba revitalizar a franquia, de preferência com Weaver. O roteiro do então desconhecido Joss Whedon se passa séculos no futuro e mostram uma Ripley clonada, seguindo a trama da corporação que deseja explorar o DNA alienígena. Contracenando com Winona Ryder, o filme tentou recriar o espírito do longa original. Contudo, a direção e a estética do francês Jean-Pierre Jeunet não complementaram bem o roteiro, e o resultado final foi outra decepção, mais feita pra manter a franquia funcionando do que levar a história a um novo rumo (apesar do final ter potencial). A idéia de Ripley tornar-se protetora dos aliens não foi bem explorada e merecia mais atenção.
A série ficou ausente por décadas. As únicas aparições do alien foram nos dois capítulos de Alien vs. Predador, que não tinham nenhum compromisso sério com a narrativa estabelecida nos filmes anteriores, e foram estruturados como jogos de videogame. Parecia que a série estava fadada ao esquecimento....
....Foi então que Ridley Scott que trouxe esse universo de volta a relevância.
Lançado em 2012, Prometeus foi um sopro de frescor e originalidade, elemento que a série não via há décadas. Aliado a um design impecável e a ousada direção de fotografia de Dariusz Wolski, a produção foi um sucesso de ponta a ponta.
Graças a um roteiro sensacional escrito por Jon Spaiths e Damon Lindelof, a idéia de explorar as origens dessa monstruosidade gosmenta já era uma ótima iniciativa em si. Mas o roteiro foi além disso, explorando conceitos de metafísica e existência através do andróide David, vivido com maestria por Michael Fassbender. Pela primeira vez em quase quatro décadas, a série aborda uma temática religiosa. Esse foi um aspecto que dividiu fãs. Por sinal, uma série que teve filmes tão diferentes acabaria por gerar essa divisão de qualquer forma. Pessoalmente, considero a inclusão de incluir temas cristãos na narrativa outra decisão ousada e acertada. Caso contrário, Prometeus seria apenas mais um filme de monstro intergalático.
Independente das opiniões, há um elemento do filme que não há como ignorar: o suspense. A cena em que Noomi Rapace conduz um aborto por conta própria é outra que redefine esse conceito, e mostra que Ridley Scott sempre está disposto a se superar.
Mesmo com altos e baixos, a série nunca deixou de chamar atenção do público que curte tanto horror e suspense quanto ficção científica. Ninguém almeja fazer um filme ruim, e a maioria dos cineastas buscam extrair os melhores elementos em seu trabalho. E pode se ter certeza que Ridley Scott, na maior parte do tempo*, sabe o que está fazendo e certamente irá nos surpreender novamente. Veremos se as consequências geradas pelos eventos de Prometeus terão gerado frutos que nos levarão eventualmente a onde tudo começou, no filme de 1979....
*Descontando aquele Robin Hood genérico, é claro....
E que venha Alien Covenant. O filme estreia amanhã. Assista ao trailer abaixo:
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:11
0 comentários:
Postar um comentário